arrancou uma única página do seu caderno de desenho,
o menino
espalharam-se por todos os lados explodindo novos mundos,
as cores
e veio passaredo mergulhar vôos sob seus pés,
a forma
e veio a chuva de inverno pra despertar os grilos do jardim,
os sons
e veio o brincar correndo entre nuvens inventadas e rios sem margens,
o irmão
e veio o beijo na testa que respirava esperança nos dias por amanhecer,
o pai
e veio o abraço tenro aquecendo-o com acalentos de bons-sonhos,
a mãe
(saudade de quando era o rei escarlate e acreditava na felicidade,
o homem)
quinta-feira, 21 de dezembro de 2006
segunda-feira, 4 de dezembro de 2006
quarta-feira, 22 de novembro de 2006
abrindo a boca e dizendo
que nada mais passaria
pelas ruas da minha infância
pelos cantos do meu coração
pelos ombros dos meus sonhos
pelas sombras do meu medo
pelos restos da minha morte
pelas cores do meu amanhã
EM SILÊNCIO
mas neles não pude acreditar
porque sabia picadeiro
esse mundo saltimbanco
esse tempo mamulengo
essa vida polichinelo
encharcada de piruetas
de magia e de sorrisos
tingida por um azul-nascente
sábado, 11 de novembro de 2006
segunda-feira, 30 de outubro de 2006
segunda-feira, 23 de outubro de 2006
terça-feira, 17 de outubro de 2006
pra ter você
mais perto dos sonhos
desenho trilha de nuvens
pra que a chuva
caia sob teus pés
enfeito de sol os teus olhos
pra que as sombras
repousem longe de ti
arremesso pirilampos ao acaso
pras estrelas cadentes
colorirem o teu mar
(sobrevive em mim a insensatez da poesia)
quarta-feira, 11 de outubro de 2006
GUARDADOR DE MANHÃS
I
piruetas fazia
brincando entre as estrelas
tendo a lua ao seu dispor
era assim que o menino
inventor de auroras
desenhava palavras
colorindo poesias
com os pés descalços de chuva
II
mas eis que a vida cresceu
sem deixar espaço algum
para que ele pudesse crer
naquilo que sonhava
porque a felicidade
de fato não veio
e a vida estatelou-se
sob os olhos miúdos do sol
quarta-feira, 4 de outubro de 2006
sexta-feira, 15 de setembro de 2006
sexta-feira, 8 de setembro de 2006
mas você chegou
derramando felicidade
onde repousam libélulas e minúsculas estrelas
mas você chegou numa tarde de setembro
trazendo aquarelas pintadas na alma
uma caixinha de música e girassóis
fazendo da minha vida
diz então
agora que
nada mais importa
agora que
tudo desabou
sem que eu pudesse escapar
diz então
como habitar
da solidão farta de ti
se é você quem ocupa esse amor
que não ousa abdicar de mim?
domingo, 27 de agosto de 2006
terça-feira, 15 de agosto de 2006
terça-feira, 8 de agosto de 2006
, pelas ruas da cidade-velha
vejo-te sozinha
a caminhar
de mãos dadas
com o que vive
nas memórias
do rasgo de sombra
dos paralelepípedos
da pequena igreja
e do rio escondido
por trás das paredes em ruínas
dessas casas abandonadas
esquecidas no tempo
esse mesmo tempo
que reluta em passar
como que de propósito
só para te deixar ali
qual fotografia
que não posso abraçar
que não posso sonhar
que não posso amar
(guardo comigo um punhado de felicidade
que será nossa, eu sei
FELICIDADE
escrita em azul-saudade
porque azul-saudade é a cor do céu
quando o sol adormece
nas ruas estreitas
e silenciosas
sexta-feira, 4 de agosto de 2006
segunda-feira, 31 de julho de 2006
terça-feira, 18 de julho de 2006
amor deveria ter fim
amor deveria nem começar
amor deveria ser explicado
mesmo até, rotulado
amor deveria ser esmigalhado
embalsamado
posto numa gaveta
amor deveria ser domesticado
(costurado ao lado do peito
alimentado pela rotina
um amor de mentirinha
amor-cara-vazia)
no centro da sala
diante dos olhares que julgam
– pois julgar é o que lhes cabe –
de joelhos e amortalhado
o amor é expiado
cuspido e escarrado
mas não se rende
(aglutinam-se imagens,
sons
e preces nesse quadro seco
e sem ossos)
no entanto
se não é amor
essa falta que fazes no meu coração
se não é amor
essa vontade sem fim de estar ao seu lado
se não é amor
essa certeza órfã de que seremos felizes
o que seria?
(porque é amor que dá vida
porque é amor que dá cores
porque é amor que no céu abre buracos
para que deus possa sonhar)
então
escuta o meu canto embalando teu nome
e colore comigo um céu em aquarela
pois amor assim
eu sei que assusta
incomoda e desconserta
SÓ
por não desejar
ser nada além disso
que poucos sabem
mas que ousam chamar
– felicidade –
domingo, 16 de julho de 2006
quarta-feira, 12 de julho de 2006
domingo, 9 de julho de 2006
quarta-feira, 28 de junho de 2006
e se tudo afunda
subtrai e desencorpa
e se tudo distancia
atropela e desfigura
o que está ao meu redor
porque não estás aqui
[minhas noites crescem
no lado oposto
onde auroras não há]
∴
.
.
.
∸
e se tudo estanca
fragiliza e descolore
e se tudo caduca
adoece e desimporta
o que sobrevive no meu peito
porque amputam você de mim
[minhas preces ecoam
nos cômodos vazios
onde a fé não está]
quinta-feira, 15 de junho de 2006
como te esquecer
se o tempo que deveria passar
estacionou nos meus olhos
pedintes dos teus
diz
como fingir que nada houve
se as memórias que deveriam sumir
gritam na minha pele
viciada de você
diz
como fugir daqui
se todos os caminhos levam a ti
e o amanhã nada é
quando não estás comigo
[tenho fábulas pra contar
tenho soldados de chumbo pra te proteger
tenho brincadeiras de roda pra te sorrir
tenho preces pra te orar
uma alvorada de girassóis pra te amanhecer]
domingo, 4 de junho de 2006
sexta-feira, 26 de maio de 2006
sexta-feira, 19 de maio de 2006
eu disse que
a melancolia
e tem que ser VOCÊ mesmo – sombras
abrigam-se nos ossos e deixam as ruas vazias –
mas você não sabe mais ser feliz – retratos
arrancados do velho álbum perdem a memória –
e tudo o que você deseja é sair daqui – arranhões
atingem a alma quando o medo adormece]
segunda-feira, 1 de maio de 2006
Lembro das vozes preenchendo as frestas da alma
Deslizando como se tudo fosse transparente
E os segredos não pesassem nos ossos.
Segundo após segundo, sentia meu corpo embrutecer
– sem que pudesse conter a veemência do medo
fechava-me num mundo insensível que me custou caro inventar –
[ paredes brancas
chão de tacos corridos
rachaduras no teto
o céu em fagulhas
estrelas e girassóis no centro do arco-íris
o canto da cigarra engolido pela noite
a voz da minha mãe fazendo-me ninar]
– embruteci –
Encaixotei brinquedos e esperança
Desenhei um horizonte mudo
Onde palavras sangrariam enquanto durasse a dor
E as vozes continuariam distantes
sexta-feira, 21 de abril de 2006
VARIAÇÃO DOIS
quando os brinquedos envelhecem,
também os sonhos
assim os girassóis, quando as brincadeiras
entristecem
eu era um menino que brincava no quintal,
fazendo do velho jambeiro refúgio
quando a vida doía no peito
[eu escutava os segredos trazidos pela chuva;
eu falava a poesia das formigas e pirilampos;
eu acalentava os anjos esquecidos por deus;
eu pintava aquarelas nas memórias do jardim;
eu não sabia que um dia iria crescer
mas cresci]
– minhas mãos ficaram presas nas ranhuras do tempo –
segunda-feira, 17 de abril de 2006
domingo, 9 de abril de 2006
A MENINA DESENHANDO NUVENS NO CÉU DO ESPANTALHO
- Teus cílios, aproxime-se de mim.
- Quantas vezes o sol adormeceu enquanto você sonhava?
- Não tenho sonhos, sou feito de palha e de mentiras.
- Nos teus ombros, os pássaros celebram as manhãs?
- Não os ouço, meus ouvidos guardam auroras.
- Meus cílios, o que vês?
- As primaveras que não tive. Tua alma escrita no silêncio da chuva.
sexta-feira, 31 de março de 2006
AMANHECERES
Eu sou um homem de palha
Esvazio meus sentimentos
Abandonando teus cílios de chuva
Junto aos pássaros sem ninho
Que me bicam os olhos castanhos
Sob as abas do meu chapéu.
DEVOÇÃO
Eu sou um homem de palha
Finco-me diante do horizonte poente
Sombreando teus ombros brancos e nus
Fazendo-te dormir quando chega a madrugada
Orando baixinho ao teu lado
Pra que sonhes estrelas e amanheças girassóis.
PRELÚDIO
Eu sou um homem de palha
Guardo deuses febris nas minhas entranhas
Planto auroras infantes no teu horizonte
E sob as velhas roupas que me abrigam
Amarguro as raízes que me prendem ao que sou
Sempre que o frio sussurra teu nome.
sábado, 25 de março de 2006
O TEMPO DA RETICÊNCIA
Queria te dizer
Que o mundo é todo teu
E os erros são meus
Todos.
*
O TEMPO ESCRITO NAS FRESTAS
Sou eu quem esmurra
A inocência.
Sou eu quem sangra e mente
A beleza.
*
O TEMPO DESDITO.
Os fracassos e os girassóis que eu nunca tive
Eu os pinto diante do rio, são minhas preces ribeirinhas.
As tardes de chuva, eu as inventarei.
- eu invento memórias pra que a dor esqueça de mim -
*
Sob o sol pálido
O homem de palha
Rumina a solidão
Pra ser feliz
*
Eu faço poesia pra sangrar imagens.
Eu gesticulo sons que ninguém percebe.
Eu te amo, mas não sei dizer.
Eu te destruo, e o faço sem querer.
segunda-feira, 20 de março de 2006
[das suas asas, brotam meus girassóis]
domingo, 12 de março de 2006
trago meus sonhos ao jardim.
A menina sorri –
espalha cores por todos os lados.
A menina sorri –
faz a chuva primaverar flores
A menina sorri –
minhas mãos descobrem o sol
[e eu escrevo uma canção
minha pequena canção
escrita pelas letras do teu nome
nas pálpebras azuis
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006
e alcance a ti e aos teus
sonhos de espantalho.
vai-te antes que os rios da floresta descubram
que é das tuas margens que brotam
as brincadeiras de roda e as palavras azuis.
[a celebração da poesia e o júbilo da loucura;
a fidelidade à terra e aos presságios da chuva]
vai-te em silêncio que é pra não despertar
a ira secreta dos anjos sem asas
essas cobaias que não puderam sorrir nem amar.
vai-te e não olha pra trás
porque nada há para ser visto
porque tudo vai ficar no seu devido lugar.
[tudo vai estar como sempre esteve;
tudo sobreviverá na mais perfeita apatia]
vai-te e leva contigo tuas estrelas
que com os vaga-lumes aprenderam a brilhar
e com os dentes-de-leão a se esconder da ventania.
vai-te e deixa comigo essa lua de isopor pendurada no céu
e um candeeiro cheio de querosene e de preces
pra quando a próxima noite despertar amortalhada
[na paródia das vidas vazias e arrastadas,
pouco importa aonde pretendemos chegar]
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006
Sangro por não saber calar
E amanheço menos de mim
Dia após dia
Estação após estação
Onde jaz a própria vida
Onde ressoam as raízes da alma
Sou espantalho guardando cantigas
Sou espantalho fingindo poesia
Sou espantalho vestido de restos
E eu não os sei aninhar.
domingo, 12 de fevereiro de 2006
domingo, 5 de fevereiro de 2006
As letras que me invadem de você têm cores.
As letras que me afastam de você têm esqueleto.
As letras que me transbordam de você têm girassóis.
Minhas letras miúdas feitas de chuva.
Quando tocam o jardim,
horizonte.
Quando lambem o mar,
sussurro.
Quando desnudam o tempo,
eternidade.
Minhas letras silentes feitas de sombras.
Nas fotos espalhadas pela cama,
memórias.
Nos batimentos incontidos do coração,
sonhos.
Nas brincadeiras no meio da rua,
encantamento.
Nos teus loucos olhos castanhos,
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006
estou sozinho
e nada ressoa
pelas sombras do meu entardecer.
Preciso dizê-lo
teu nome
sete mil vezes
e outras tantas mais.
Sem crer
ou alimentar
sem respirar
ou fraquejar.
Preciso repetir
preciso estrangular
escrever em letras de giz
e fazer poesia.
Preciso extirpá-lo
e pra sempre
outra vez
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006
sexta-feira, 27 de janeiro de 2006
quarta-feira, 25 de janeiro de 2006
noite – luzes e cortes minuciosamente roteirizados. perdas e lástimas minimamente acalentadas pelas escoriações d’uma alma inquieta[incerta são as razões próprias da carne, sempre vorazes daquilo que ficou]
noite – o espantalho é incapaz de seguir adiante. embrutecido demais para ser retratado contempla a vida pelo medo, já amarelecida[aturdida, você não soube cicatrizar as amarguras do meu mundo isento de sons]
segunda-feira, 23 de janeiro de 2006
para o mundo lá fora
se não formos assim tão sãos
ante aos que nos bendizem
e aos que nos maldizem,
loucos além da medida
se não formos assim tão vãos e vaidosos
nas mentiras que nos sagram os dias turbulentos e
as noites vazias também.
cura ainda há
para o mundo lá fora
se não formos assim tão medrosos
diante daqueles que descrêem na gente
e soubermos no meio dessa dor que nos dilacera
no meio dessa dor que nos apequena e sutura o sol
plantar chuva, rabiscar sorrisos, ninar igarapés
desafortunar de todo a tristeza e
escutar o azul das estrelas de depois de amanhã
[a primavera mudou de endereço, aqui não podemos mais ficar]
quinta-feira, 19 de janeiro de 2006
não, é-me danoso crer na cura dos males desse mundo tão estúpido e atarefado que nos amordaça, branco.
não, sou espantalho e sobrevivo quieto ao esvoaçar desenfreado do tempo que faz tudo tão distante, ocre.
[minha matéria-prima é sonhar ensandecido o brilho inviolável dos teus olhos de menina, castanhos]