domingo, 25 de outubro de 2009

ao cair da noite
porque guardador de sonhos
o espantalho lançava pedrinhas
à escuridão emudecida do céu
como se estrelas cadentes fossem
pedindo ao deus que lhe disseram existir
não mais abandonar à desgraça
as crianças daquele lugar


imagem de andy b. clarkson

domingo, 20 de setembro de 2009


nas tessituras de um frágil voo
eclipsado por um céu-nanquim
o menino poenta-se andorinha

domingo, 23 de agosto de 2009


quando o frio percorre
nossas memórias
faminto levando-as
à revelia
para não mais voltar
eis que deixa conosco
a medida exata do que somos

[arremedos de ontem
destelhados de sonhos]

quinta-feira, 30 de julho de 2009


imagem de eric white

prender-me ao teu céu
às cores que dele
escorrem
[ser rabisco]
de alguma
felicidade sem fim

domingo, 26 de abril de 2009


à luciana marinho
imagem de sarah petruziello



sustentando o invisível
com o ventre prenhe de nuvens
presos sob um céu sem nome

(por que à infância sobrevivemos?)

atravessaremos fronteiras
agarrados a cantigas
sem termos mãe para cantá-las

(ao lar, voltaremos enfim?)

terça-feira, 14 de abril de 2009

imagem de dino valls
ao amigo carlinhos (padeceremos de solidão?)



as memórias do arrebol
são-me refúgio
[translúcidos escombros]
avessos à escuridão
muda de minh’alma

quarta-feira, 25 de março de 2009


a vida

enerva

caminhos



(estamos nós

olhos nus

a recordar sonhos)



enquanto homens

sepulcram

vozes



(universo oco

assombrado por

anjos senis)

domingo, 22 de fevereiro de 2009



imagem de yolanda velázquez


acolhido por memórias
um homem só
recorta nuvens

enquanto o poente
alheio a tudo
refugia andorinhas

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009


imagem de sarah petruziello

- partes.

- amor é desespero?

- apenas o silêncio ficará guardado, tenho medo.

- mas, os sonhos?

- ontem senti pela primeira vez as ruas estreitarem-se. fui invadido por imagens de nós dois, mas você não estava lá.

- eu ficaria contigo...

- há vidas a serem descobertas. elas não precisam de mim.

- preciso de ti.

- girassóis, você plantou-os em mim.

- fico.

- adeus, menina que eu amo.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009


imagem de maria helena duque


- vire as páginas do livro. muitas, ao mesmo tempo.


- você acredita que assim suportaremos a dor?


- veja, a palma das minhas mãos. há muito aprendi existir uma única linha que diz sobre o nosso destino.


- por que sofrem tanto os que ficam?


- só a morte escapa ao sofrer.


- quanto pesa estar vivo?


- aqui, foi neste ponto que nossas vidas encontraram-se.


- não vejo nada, tens as mãos fechadas.


- guardo sonhos pra que possas sonhá-los.

sábado, 10 de janeiro de 2009


imagem de redon
- não sei como abraçar-vos.

- lembro de quando eras criança, te levava à praça de manhã bem cedo. havia um cachorrinho, estava sempre por lá. sorrias ao vê-lo, deixando o céu mais azul.

- ontem fizerdes aniversário e mesmo assim, não vos abracei.

- tens a ternura da tua mãe, isso me faz saudoso.

- estou preso aos meus demônios?

- o primeiro presente que te dei foi um carrossel. passei meses guardando dinheiro para comprá-lo. eu nunca tive um carrossel.

- minhas noites são insones. tenho medo de sonhar. sonambulo pela realidade, oco até a alma.

- quando tua mãe morreu, quis esconder-me da dor. mas, eras tão criança. como poderia fazê-lo?

- minhas cicatrizes crescem ao contrário. embruteço dia após dia.

- há lugares que escapam à memória. sei existir um arco-íris lá.

- salvai-me de mim?

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009


- estás distante ou há céu demais entre nós dois?
- apenas amo-te, desesperadamente.
- por que escondes, então?
- o tempo nos conduz ao fim, não vês?
- o que vejo são estrelas cadentes pedindo pra serem sonhadas.
- minhas pálpebras selaram a noite por dentro, como sonhar?
- vem, deita em meus ombros.
- há silêncio aqui.
- e não é o silêncio,paridor de horizontes?



imagem de ramón hidalgo