segunda-feira, 31 de julho de 2006



yves klein

portanto
eu sei
por detrás dos meus medos
habitar um ladrão de sonhos
inconfesso sepulcro
dessa aridez incontida
(na palma das tuas mãos
eu colheria flores)

terça-feira, 18 de julho de 2006

chagall

amor deveria ter fim
amor deveria nem começar
amor deveria ser explicado
mesmo até, rotulado

amor deveria ser esmigalhado
embalsamado
posto numa gaveta
amor deveria ser domesticado

(costurado ao lado do peito
alimentado pela rotina
um amor de mentirinha
amor-cara-vazia)

no centro da sala
diante dos olhares que julgam
– pois julgar é o que lhes cabe –
de joelhos e amortalhado
o amor é expiado
cuspido e escarrado
mas não se rende


(aglutinam-se imagens,
sons
e preces nesse quadro seco
e sem ossos)

no entanto
se não é amor
essa falta que fazes no meu coração
se não é amor
essa vontade sem fim de estar ao seu lado
se não é amor
essa certeza órfã de que seremos felizes
o que seria?

(porque é amor que dá vida
porque é amor que dá cores
porque é amor que no céu abre buracos
para que deus possa sonhar)

então
escuta o meu canto embalando teu nome
e colore comigo um céu em aquarela
pois amor assim
eu sei que assusta
incomoda e desconserta

por não desejar
ser nada além disso
que poucos sabem
mas que ousam chamar

– felicidade –

domingo, 16 de julho de 2006


lizette lugo
você devia me amar menos, ela disse
e ele, sem saber como medir
trouxe nas mãos um punhado de nuvens
duas conchinhas do mar
& o coração sorrindo cores

quarta-feira, 12 de julho de 2006


pro syd
na cidade dos palhaços de gesso
aplaudem vozes tristonhas
daquela gente feita de medo
com gosto de cinzas
sem céu
sem chuva
sem tardes poentes
sem nada

na cidade dos palhaços de gesso
as crianças não brincam na rua
nem sabem das cigarras
o canto triste
a cor das estrelas
o cheiro dos sorrisos
sabem nada

domingo, 9 de julho de 2006


o adeus vê
a dor ao avesso
secretando nos ossos
medo
angústia
&
frio

o adeus traz
esperanças estreitas
impondo ao destino
quietude
descrença
&
poesia

(é quando a solidão
descobre
a fundura da chuva)