sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

aquilo que escorre lentamente por dentro do silêncio, neste quarto onde impera um alguém só [a matéria-una dos instantes que vão pra nunca mais, voltando depois, sempre, a nos rir jocosamente]
- imbecis, é o que somos quando cremos nisso de amar.
a carne é o fato; é o que deixa rastros. e nada mais importa,
você deveria saber -
aquilo que viscoso afaga-nos a dor e cinicamente ata-nos ao que se faz de todo insustentável [os sonhos-giz que tatuam nas vísceras o cheiro da ausência e abandonam as cores no fundo da alma]
- mesquinhos, é o que somos ao escrevermos nossos roteiros.
o destino é decomposição; é o que não sobrevive. e nada mais acontece,
você deveria arriscar -

quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

noite - esmiuçadas, as cores fragilizam o instante. tudo que escapa ao peso do tempo aumenta cada vez mais o vazio das entranhas[estranhas são as formas do silêncio, sempre presentes naquilo que passou]

noite – luzes e cortes minuciosamente roteirizados. perdas e lástimas minimamente acalentadas pelas escoriações d’uma alma inquieta[incerta são as razões próprias da carne, sempre vorazes daquilo que ficou]


noite – o espantalho é incapaz de seguir adiante. embrutecido demais para ser retratado contempla a vida pelo medo, já amarelecida[aturdida, você não soube cicatrizar as amarguras do meu mundo isento de sons]

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

cura ainda há
para o mundo lá fora
se não formos assim tão sãos
ante aos que nos bendizem
e aos que nos maldizem,

loucos além da medida
se não formos assim tão vãos e vaidosos
nas mentiras que nos sagram os dias turbulentos e
as noites vazias também.

cura ainda há
para o mundo lá fora
se não formos assim tão medrosos
diante daqueles que descrêem na gente
e soubermos no meio dessa dor que nos dilacera
no meio dessa dor que nos apequena e sutura o sol
plantar chuva, rabiscar sorrisos, ninar igarapés
desafortunar de todo a tristeza e
escutar o azul das estrelas de depois de amanhã


[a primavera mudou de endereço, aqui não podemos mais ficar]

quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

não, a solidão destas tardes chuvosas e úmidas de verão é incapaz de conter a ausência tua, azul.

não, é-me danoso crer na cura dos males desse mundo tão estúpido e atarefado que nos amordaça, branco.

não, sou espantalho e sobrevivo quieto ao esvoaçar desenfreado do tempo que faz tudo tão distante, ocre.


[minha matéria-prima é sonhar ensandecido o brilho inviolável dos teus olhos de menina, castanhos]