quinta-feira, 27 de novembro de 2008


porque juntos
alimentam-nos alvoradas
de girassóis.

terça-feira, 21 de outubro de 2008


não deixei rastros
sabia não resistir ao teu reencontro
não busquei trilhas
vaguei procurando sentido ao teu abandono


homens disseram o que mulheres velaram
estás em lugar algum
porque me habitas as entranhas
aonde quer que eu vá



imagem de oswaldo guayasamin

sexta-feira, 26 de setembro de 2008



- só agora, quando finda a primavera, descubro a imensidão dos teus olhos.

- choverá em breve, e nossos barquinhos de papel dirão o rumo a ser desfeito.nada mais resta, estamos partindo um do outro.

- tive medo, não consegui sonhar. pude ver a felicidade esparramada em cada gesto teu. era verdadeira e não pedia nada em troca. tolo que sou, não cri.


- escuta: não seremos trilha ou precipício. andanças ou vôo. apenas um lugar bom que ficou para trás.

- voltaremos?

- não.

- isso é um adeus?

- é poder respirar em paz.

terça-feira, 26 de agosto de 2008




nas entranhas de mim
insistem palavras malditas
homem que sou
paridor de poesia

segunda-feira, 4 de agosto de 2008


(pra mari)

eis a madrugada
parindo os primeiros raios de sol
num ritual de cores que não se repetem
você brigaria comigo se soubesse que ainda
não fui dormir

faço silêncio
pra não te acordar enquanto escrevo
poesia aos pedaços nas páginas dum velho
caderno que inventei na infância ao descobrir
que sonharia você


imagem de redon

quinta-feira, 10 de julho de 2008



traga de volta meus girassóis
eu já não sei mais como sorrir
e o céu parece menor que um salto
e o amor parece menor que um grão

quinta-feira, 5 de junho de 2008


pinte um sonho com cores de infância

chame meu nome que eu estarei lá

dentro do medo há nuvens de chuva

rabisque o céu e um arco-íris virá




sexta-feira, 2 de maio de 2008


porque éramos chuva
sabiam meus ombros
tua tristeza ninar

porque éramos loucos
sorriam meus olhos
sem medo de te amar

porque fizemo-nos tantos
faltaram-nos mundos

não conseguimos voltar

sábado, 5 de abril de 2008



por dentro da alma
onde só os ossos conhecem o silêncio
daquilo que nos entrelaça ao acaso
escreve meu nome
que eu pinto um arco-íris no teu jardim


imagem de patrice besso

terça-feira, 18 de março de 2008


ao jos stelling

dormiu até virar paisagem
ninho de pássaros
que rumam ao sol

imagem de juan valladares

sábado, 8 de março de 2008


trago teus sonhos de volta
e as dores tuas, sepulto-as comigo
reatando o destino desfeito em nós
dos teus olhos,um grito breton
abrigo às alvoradas de girassóis

imagem de david rodríguez

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008


quando a infância deixa de sorrir
murcham os sonhos
crescem os homens
morrem as auroras
fica o céu.



imagem de ramon hidalgo

domingo, 3 de fevereiro de 2008



nossas mãos tinham o tamanho dum rompante
de andorinhas infinitando o céu,
azul...
azul...

éramos irmãos feitos de nuvens
descobrindo no lamento da chuva o nascer do arco-íris
brincando de faz-de-conta num mundo que cabia
no canteiro de flores do nosso jardim

[o vento fracionando o tempo
trazia coisas pequenas aos nossos olhos
– gafanhotos e formigas-de-fogo
folhas de outono e auroras
cirandas e girassóis –
acomodá-las na caixa de lápis de cor
transformava o desconhecido em poesia,
o fantasiar por um triz ]

só não desconfiávamos que os sorrisos caducariam aos montes
calando-nos no peito o cantar das cigarras
roubando-nos na alma a meninice emprenhada de sonhos
e fé.


imagem de fernando diniz

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008




- você já foi criança?
- costumava brincar na chuva e sorrir
- coloria nuvens?
- desenhava sonhos para não sabê-los morrer
- medo, é isso?
- abandono. apenas abandono.

imagem de berni

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008


já é tarde
o sol adormece longe daqui
enquanto no céu pontilhado por estrelas
pirilampos desvelam a solidão do luar