segunda-feira, 1 de maio de 2006


PRIMEIRA AURORA E O DESPERTAR DO ESPANTALHO

Lembro das vozes preenchendo as frestas da alma
Deslizando como se tudo fosse transparente
E os segredos não pesassem nos ossos.

Segundo após segundo, sentia meu corpo embrutecer
– sem que pudesse conter a veemência do medo
fechava-me num mundo insensível que me custou caro inventar –

[ paredes brancas
chão de tacos corridos
rachaduras no teto
o céu em fagulhas
estrelas e girassóis no centro do arco-íris
o canto da cigarra engolido pela noite
a voz da minha mãe fazendo-me ninar]

– embruteci –

Encaixotei brinquedos e esperança
Desenhei um horizonte mudo
Onde palavras sangrariam enquanto durasse a dor
E as vozes continuariam distantes
Nesse lugar esquecido dentro da ausência de ti.

3 comentários:

Cláudio B. Carlos disse...

Belo poema.

tb disse...

Fico muda de tanto gostar.
Beijos

mitro disse...

Lírico e críptico.