segunda-feira, 17 de dezembro de 2007


quando a noite cai
despertam-nos dos sonhos
cadentes estrelas
parideiras de auroras
verbo, em desatino



imagem de klimt

terça-feira, 20 de novembro de 2007


teu sorriso desenha poesia

no céu azul da minha solidão
imagem de adelina gomes


sexta-feira, 26 de outubro de 2007


acolhido pelos braços silentes do espantalho
o outono brotou passarinhado
imagem de hector blanco

sábado, 6 de outubro de 2007

pra menina que eu amo
as formigas têm cheiro de azul, disse a menina
mergulhando em seguida numa nuvem que em aquarela pintara
para brincarmos de roda e de sorrir
pouco ligando se eu sabia ou não ser tão céu assim
porque no seu mundo de cores alumiadas
ser feliz era só o que importava


imagem de redon

domingo, 23 de setembro de 2007

pra marianna t.

são dois rasgos de lua
meus olhos acalentados
na imensidão dos teus


imagem de redon

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

PEQUENA CANTIGA PRA TIA LILI

se um dia estivermos em caminhos azuis
e todas as nuvens forem carneiros no céu
saberás,
é apenas um sonho
é apenas um sonho

se no meio do nada girassóis nos trouxerem manhãs
e em nossas almas plantarem um nanquim de primaveras
saberás,
é apenas um sonho
é apenas um sonho

tia
ainda escuto tua voz me ensinando orações
as três únicas que sei
e que guardam meus anjos
mesmo quando a minha insanidade
não me deixa dormir

se em plena dor eu puder tocar no teu rosto
e voltar a sorrir meu sorriso perdido
saberás,
é apenas um sonho
é apenas um sonho

domingo, 19 de agosto de 2007


insanos
por que a cada alvorecer eram vistos dançando,
quando apenas sorriam,
com os pés relampejados de céu?

sexta-feira, 27 de julho de 2007



inventarei um precipício de cores

voarás arco-íris

(trago o improvável aninhado sob meu chapéu)


imagem de redon

terça-feira, 17 de julho de 2007

ela disse
que gostou do meu all star preto
e sorriu distraída
e soterrou as amarguras
e fez-me acreditar
que existe amor

ela disse
que gostou dos meus olhos castanhos
e guardou minhas auroras
e deixou as janelas abertas
e fez-me acreditar
que existe amanhã

segunda-feira, 2 de julho de 2007




meus olhos descrêem

tuas mãos retêm

nossas horas migram ao vazio

LENTAMENTE

velando o que outrora fora amor



...

é a vitória dos homens vestidos de cinza

que sob o sol morto

encarnam a felicidade prescrita



.

(nos FARRAPOS do homem de palha, lágrimas

feitas de sombra e dor;

no ADEUS da menina que amanhece girassóis, lágrimas

feitas de sonhos e amor)




imagem de manzan

segunda-feira, 4 de junho de 2007

pra marianna.

despertava beleza por onde brincava
menino escrevinhador de fábulas agrestes
das estações guardador de insetos
colorindo-os no caderno-de-desenho que consigo levava.

um dia soube que adulto seria
e já sem forças pra escapar do que lhe esperava
sob o pesar das estrelas cadentes
às margens do rio abandonou o caderno.

mas a lua que a tudo olhava
lá do alto sussurrou uma canção encantada
revelando ao menino pequenos segredos
fazendo-lhe a vida outra vez cirandar.

desde então cresceu em si qual criança
enluarado por borboletas famintas por cores
de noite a pousarem em suas mãos aprendizes
para todo o sempre borradas de céu.


imagem de redon

segunda-feira, 21 de maio de 2007


hoje eu só
quero escapar desse
deserto
e dentro de uma nuvem
chover felicidade sobre nossos corpos
para desertar essa
tristeza
imensa,
tão imensa.
imagem de siegfried

segunda-feira, 30 de abril de 2007




há girassóis no teu enluarar
pedaços de mundo pertinho de mim

esquecidos,
caem aos pares

encantados,
giram aos montes

vagalumeados,
brincam sem fim

(amor crescendo raízes no espantalho coração)

sexta-feira, 13 de abril de 2007


eram sorrisos com cheiro de pequenas manhãs jardineiras de sol
que meus horizontes diziam
eram dores escritas como quem abraça sonhos mortos junto ao peito
que meus prantos guardavam
eram tardes vazias diante do esquecimento náufrago da tua presença
que meus planos escondiam

(e se não fosse tudo tão breve
qual barquinhos de papel sobre nós,
oceano
menina dos olhos graúdos que colorem primaveras,
destino algum aos nossos pés existiria?)

domingo, 1 de abril de 2007



- Hoje, diga hoje; eu preciso saber por quantas andam teus sonhos, desamores e medos.
- Estive longe, e longe fui para descobrir os girassóis que amanhecerás quando contigo eu puder sorrir.
- Soube que tuas manhãs sobreviveram à saudade e teus olhos já colorem chuvas ao entardecer...
- Minhas noites escondem-se em sentimentos náufragos, apequenadas e mudas.
- As estrelas cadentes que o teu céu esperançavam, devo esquecê-las?
- Invento sóis quando me acoberta o frio, aprendi a solidão. Tua ausência estrangula minha farsa. Sou um homem vestido de cinzas, fiz do amor escombros.
- E não é o amor um punhado de cores sobrevivendo aquarelas?
- E não era amor o que meus anjos noturnos ao teu lado velavam?


imagem de Jose tonito rodriguez

segunda-feira, 26 de março de 2007


estendias cores
no varal da alegria
e brincavas
e saltitavas
e sorrias
e sorrias
doces manhãs
de azulados faz-de-conta
que ao mundo encantavam
rodagigantando o céu

... quem mais poderia

quem mais poderia?
imagem de dubuffet

quarta-feira, 14 de março de 2007


azul
azul
azul que não acaba mais
fugindo do céu
mergulhado aos pés daquelas montanhas
sabedoras do sol
no deserto coração

(aurora por despertar)


pintura-colagem do marco alexandre rosário, louco amigo meu.






domingo, 4 de março de 2007


há muito soube do sol
pássaros cantando à sombra
dos seus ombros feitos de palha
esquecido
escora-se nestas lembranças
não sorri mais quando a chuva
liberta do céu um arco-íris
faltam-lhe amor e sonhos
pra sempre guardados nos olhos da menina
que um dia o seu mundo coloriu
imagem de jose "tonito" rodriguez

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

imagem de dubuffet
ao espantalho que habita o meu peito.


chove na plantação
gotas que relampejam estrelas cansadas do céu
das nuvens às folhas e das folhas ao chão e do chão às raízes
o som das gotas embala o coração do espantalho
fazendo brotar girassóis noturnos
aos quais chamava
esperança

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007


redon
pro diovvani
borboletas
não sabem das nuvens
a tristeza calada
recortam
em céus multicores
a bravura ruidosa do vento

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

antonio berni

Porque disseram que eu sou um erro. Porque cuspiram no meu rosto um homem mentiroso que nunca serei. Porque nesse mundo de sorrisos acinzentados não é permitido respirar felicidade. Porque eu preciso sobreviver pra que o mundo de nós dois não morra. Porque eu preciso inventar um adeus que seja nunca. Um adeus que tenha fim.


dou-te as lágrimas
que neguei ao colo de deus:
eu preciso recuperar o sonho
que escapou aos nossos olhos
levando consigo a candura
encantada dos girassóis.

dou-te as preces
que acreditam nas minhas mãos:
aninhe-as quando chegar o entardecer
para que povoem no teu céu andorinhas
azulando as manhãs solitárias e frágeis

dessa longa ausência de mim.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

à minha mãe. saudade...

seus olhos, pode abri-los agora. já não há mais dor e o medo ficou trancado no baú de maldades daquela velha bruxa que tanto lhe assombrava as noites. ela agora se foi junto à doença que se apossou de mim por anos a fio, tornando a vida um aglomerado de amanheceres descascados qual céu banguela de nuvens. não, não chore! foi só um pesadelo. o seu irmão dorme na cama ao lado e o seu pai está a roncar lá no outro quarto. não há o que temer, eles amam você e não lhe deixarão sozinho. se eu contar uma estória, você abre os olhos e depois volta a dormir? quando eu era pequena, aprendi com a sua avó que todas às vezes que a noite quer nos roubar a esperança, pirilampos iluminam o céu e viram estrelas cadentes que realizam nossos desejos, bastando pra isso jamais desistirmos de sonhar. abra os olhos, filhinho. eu estou aqui, a lhe abraçar. abra os olhos: nada nos afastará, eu juro. estarei ao seu lado, mesmo que você só possa me sentir como quem sente um olhar já vivido acarinhando a lonjura da alma. não há o que temer. a morte vem e passa, como também passam a tristeza e a dor. só a felicidade quer eternidade. e hoje ela está aqui, conosco, pra que eu te embale no colo e te faça ninar.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

antonio berni

pro amigo esquilo. e pra menina que eu amo.

você, quando se despede junto ao amanhecer, entrega-me ao medo e eu, eu não sei mais como escapar de ser um menino que deixou suas aquarelas caírem no chão. não sou capaz de inventar outro alguém, só você e seus ombros nus onde repousam borboletas amarelas. és quem alcança minhas margens, formando redemoinhos que viram carrosséis e fazem da vida uma brincadeira de roda sem tempo pra acabar [lembra quando éramos nosso mundo? eu cantarolava cantigas enquanto acarinhava tuas costas; você sonhava deitada ao meu lado, e sorria] se eu não fosse esse homem trancado ao assombro de saber-te meu completo sentido, logo-logo seríamos arribação, sorrisos emigrando daqui pra acolá. posso sentir nossos pés molhados de chuva e o nosso coração batendo mais forte quando, espantados, descobrimos que as nuvens não são tão altas assim [poderíamos brincar de saltá-las ao final de cada tarde, quando o sol procura estrelas dentro do mar...quão felizes! quão felizes!] mas, eu sei de mim as minhas distâncias que tornam qualquer felicidade insuportavelmente irreal. só não quando você está aqui – aí, o céu respira. por que hoje você resolveu não estar?